domingo, 23 de agosto de 2009

Te amo hoje mais que ontem
e amanhã mais que hoje
e depois ainda mais
subindo cada dia um pouco
só pra fazer uma escadinha
e chegar nos seus 1,86m
Quando você saiu do meu sonho
pra entrar na minha vida
Eu já tinha me acostumado
a te esperar
Mas aí você virou verdade
fez morada dentro de mim
e agora esperar cansa
esperar mata
esperar dói
demais
De repente me pego com duas taças de vinho na mão, prontas a se estilhaçarem na pia da cozinha. De propósito. Calculadamente. Meu desejo é ferir algo que não seja eu mesma, que já estou despedaçada. Segurei a lágrima durante todo o dia. Não posso mais. Não consigo mais fingir que a sua falta é ao menos tolerável.

domingo, 24 de maio de 2009

Não desista de mim, amado da minh'alma.
Não desista mesmo que eu desista.
Não desista mesmo que eu já não tenha forças pra lutar.
Com um alicate
eu corto fatias de mim
diariamente
para alimentar os morcegos
que voam na minha mente
infértil
mente

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A porta respira a tua ausência.
O espelho reflete o teu rosto que não mais ri
aqui
há uma bagunça sã
propositada
pra que o teu despropositado afã de organizar
traga de volta
o corpo que roubaste dos meus
lençóis

Se eu chorasse menos talvez visse
a desordem
e não me importasse com ela
num descaso que te ferisse
como me corta a tua ausência

A janela fechada está
porque o teu calor não precisa dela
já que esse, o calor,
o teu, o tu
não está

És um espectro
que percorre a casa
e eu prendendo a respiração
tento em vão
aprisionar em mim
teu beijo, teu sexo
tua risada ampla
tua hombridade
teu suor fácil
de fantasma esquecido no tempo

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Poema mau

Por que me importam
a distância e o tempo
que nos separam
se só estou a caminho
se só eu aceito
sair do meu lugar
se as minhas opiniões só valem
quando não te contrariam
Quando vês
tuas atitudes
refletidas no espelho
sim, elas te ofendem
mas não a mim
porque não avisei antes
não pedi por favor
pra me sentir ofendida

domingo, 25 de janeiro de 2009

Carolinas e quindins


Schwab-Figueiredo


Eu que um dia fui letrista
tenho um lápis que não risca.
Minha musa é que é sambista
E por isso eu sou cantor.
Não que não me importe o samba
Não que eu dance mal a bamba
É que o samba que ela dança
É tão belo de onde eu tô.
Solitário até que agüento
mas pra que perder meu tempo?
É besteira! Eu nem tento
viver sem o meu amor.
Qual menina bem crescida
serelepe e elegante,
ela veio bem vestida
com peninhas de pavão.
Trouxe um cesto de docinhos,
carolinas e quindins,
não me deu nem um tiquinho,
fez foi pôr meu coração.
Ele veio num repente
meio assim tão displicente
pr'esse homem imponente
confiei o meu amor
Me prendeu no seu abraço
Ele aprumou meus passos
Fez sumir o meu cansaço
E cuidou da minha dor
Esse homem de mansinho
Já virou os meus caminhos
Dei-lheu todos os meus beijinhos
Vou com ele pr'onde for.
Qual menino bem crescido
serelepe e elegante,
veio ele bem vestido
com peninhas de pavão
Viu meu cesto de docinhos,
carolinas e quindins,
não lhe dei nenhum pouquinho
fiz foi meu seu coração.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Nossa língua portuguesa




Distância é um verbo horizontal
que deitou no papel
pra preencher o vazio
entre nós dois

Saudades são verbos pontuais
fincados todos
no coração

Você é interjeição
de espanto, de medo
de súbito entendimento
do amor incondicional

Nós é substantivo
epiceno e concreto
é nome próprio
é o eixo sobre o qual
gira a terra

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Tresloucadamente


Hoje me deu vontade de dançar na chuva. Entrar sem roupa no mar. Cair nos braços da vida, da louca vida, de me deixar levar. Saudades dos tempos de óculos escuro e rímel borrado da noitada. Ressaca moral, a melhor de todas elas. Colocar o interruptor do phoda-se no on e rir sem pressa, no volume máximo, sem motivo. Hoje eu quis me mandar ir passear. Dar uns bons tabefes nessa cara lisa pra ver se eu acordo. Que vidinha é essa de dona-de-casa-burguesa-bem-comportada-cêdêéfe que eu arrumei? Vou mais é pendurar o bom senso no varal e sumir do mundo...

sábado, 3 de janeiro de 2009

Falta


Dá-me teu peito, amado meu,
para que eu chore tua ausência
para que eu sofra o tua falta
para que eu tenha o ar, que já se extingüe
sem você aqui

Sonâmbula


Vou dormir
um sono longo
entrecortado de suspiros
pra ver se chego
ao menos em sonho
até nossa casa
onde dormes
Beijar-te-ei
e logo volto
esbaforida
com o sentimento
do dever
cumprido

Como posso esquecer dos costumes se nem mesmo esqueci de você


Nas pequenas maldades
e prazeres
cotidianos
é que mais me faltas

Na tua mania de arrumação
no cheiro suave do cachimbo
no desejo insaciável
na tua orgulhosa falta de dinheiro
no teu pensamento elaborado
nos teus carinhos, nos teus braços
é que eu encontro sentido

Não amo só


Amo só
porque apareceu
um dia
na minha janela
e me contou futilidades
em português perfeito
e não prometeu nada
também nada me cobrou

Amo só
porque não mentiu
não jogou
foi sábio e cavalheiro
vez por outra cruelmente
verdadeiro

Amo só
porque foi até mim
sem saber o que encontraria
e porque pacientemente
me buscou onde ninguém olhava
nem mesmo eu

Amo só
porque com didática
e candura
discutia em conversas
nas quais eu invariavelmente dormia
- que voz de anjo aquela!

Amo só
porque descobriu a minha vaidade
e penetrou nos meus medos
assoprando pra longe
as cicatrizes da minh'alma

Amo só
porque dele não me canso
senão pra novamente
descobrir que amo
e não amo só

Arma Dura


Viver sem você hoje
dói como uma espada
atravessando
a armadura
da qual me vestia
diariamente
e que você com calma
paciência
e lágrimas
despiu de mim
para que eu lhe amasse
de corpo inteiro
com a pele nua e frágil
e branca
e sua

Anti-noite




Numa noite dessas
há que se sofrer
de amor
Numa noite escura e fria assim
é deselegante ser feliz
Essas noites foram feitas
pr'aqueles que como eu amam
e sofrem
e choram....

Desatino


Entrou como a brisa leve da manhã
na janela aberta
qual ribeiro que corre
longânime
por desconhecer outro destino
me aninhou nas suas palavras
nos seus braços
inundou de amor e alegria e senso e vida
os dias
que passaram a ser contados
somente se vividos
na sua presença

Imenso


Quisera houvesse quietude
nessa casa
nessa rua
na minha vida
e eu poderia gritar
a ponto de quebrar o silêncio
de quebrar qualquer coisa
além do meu coração
que partido já está