domingo, 11 de maio de 2008

De Agostinho

Será, talvez, pelo fato de que nada do que existe sem Ti, que todas as coisas Te contêm? E assim, se existo, que motivo pode haver para Te pedir que venhas a mim, já que não existiria se em mim não habitásseis?

Como pois posso chamar-te se já estou em Ti, ou de onde hás de vir a mim, ou a que parte do céu ou da terra me hei de recolher, para que ali venha a mim o meu Deus, ele que disse: Eu encho o céu e a terra?

Porque não são os vasos cheios de Ti que Te tornam estável, já que, quando se quebrarem, Tu não Te derramarás; E QUANDO TE DERRAMAS SOBRE NÓS, ISSO NÃO O FAZES PORQUE CAIS, MAS PORQUE NOS LEVANTAS, NEM PORQUE TE DISPERSAS, MAS PORQUE NOS RECOLHES.

Santo Agostinho

Catarse

A culpa não é sua. Seu é o direito de ser fraca. Ninguém é super herói.
A culpa não é minha? Quer dizer então que eu posso chorar? Achei mesmo que essa dor que vive em mim era maior do que eu posso tolerar. Mascarar a dor é só um jeito bizarro de considerá-la grande. Escondo do mundo meu coração. Mesmo escrevendo, faço por partes. Frases pequenas, pra que a beleza se superponha à dor. Hoje quero escrever feio. Palavras repetidas. Sentimentos recalcitrantes. Choro e mágoa atrasados. Não quero ter culpa por sofrer. Sei que há muitos com maiores e mais justos motivos de se sentirem mal. Hoje no avião vi quão pequenas são as montanhas que contém as casas, quão diminutas as casas que contém as pessoas, quão mínimas as pessoas que contém os problemas. Mas mínimo não é insignificante. O dedinho cortado lateja, como que pra lembrar que é pequeno, mas dói. Às vezes tanto quanto a perna dilacerada. Então, eu posso sofrer. Mas não consigo. O choro me chega na garganta e vai embora. Sinto o aperto - e desvanece. Tenho vergonha de chorar. Estou só no quarto. A vergonha é de mim mesma. Não quero me admitir frágil. Sei bem que quanto menos me conheço e me aceito, mais ridiculamente fraca eu sou. Se eu agisse conforme cada coisa que sei!!!! Preciso chorar. Não porque vi um filme, não porque ouvi uma ópera, nem pela heroína de um livro. Preciso chorar de dentro pra fora de mim. Um choro meu, não fabricado. Minha dor tem que doer. Desamortecer. Gastei tantos anos escondendo ela lá no fundo que não consigo chegar perto. Nem consigo falar o que é.

domingo, 4 de maio de 2008

Sei onde, porque e como dói. Só não sei fazer parar. Queria te amar menos - nem faço questão de desamar logo de vez. Se fosse pouco, se fosse tolerável, se não esmagasse o coração...
Tuas migalhas de atenção me sustentam dia após dia, veneno homeopático. E tu nada sabes. E por desconheceres que és algoz, mais ainda me dilaceras a alma.
Queria poder incriminar-te de um erro que sei só meu. Pudera eu e serias meu cúmplice, pois ao menos nisso estaríamos juntos. Ouso pensar-te inclusive como meu álibi. Mas olho pro lado e vejo que nada somos. Eu sou e tu és. E só.

mágoa

Como é possível - me pergunto - só eu sentir o chão tremer? Não ouviste? Os sinos tocaram... Os fogos de artifício, essas estrelas emprestadas ao Criador, será que só pra mim brilharam?
Então porque não me amas? Porque te perdes em outro alguém? Cada segundo em que não somos, eu e tu, juntos, corrói todo o universo.

Às suas bodas

Se não o sabes, meu amor, meu coração está rasgado em dois. Desconheces o fio que me aprisiona a teu prazer. Ignora quão valiosa me é tua felicidade, mesmo que a aches em outro abraço que não o meu. Valiosa não, imperiosa, absurdamente necessária. Não existo sem que sejas feliz. E por isso choro, por isso clamo, por isso caio. Não há viver sem que estejas tu completo.