quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ciclo

Eu erro tanto
que de errar me culpo
e em me culpar eu fujo
e em fugir eu erro...

E a todo tempo
estás lá
não apenas a observar
- o que já seria muito
mas me amando
no gerúndio
pois que teu amor não tem
passado
nem futuro
é só um presente
infinito

E eu, desse amor sem limites
me constranjo
e mais ainda erro
sozinha
como se não fosses
Mas ÉS

Guia minhas mãos,
amado,
pra dentro desse amor
que eu nunca ouvi dizer
que existisse
e me proteje de mim
me proteje em nós

Perto de ti
me sinto criança
reaprendendo
que amar existe
que segurança existe
que presença existe
que profundidade existe
e estão guardadas
em um subsolo

Agonia

Se eu te perdesse hoje
seria um desastre
um horror
um espetáculo de aberrações
Porque estaria
invariavelmente
dilacerada
rasgada em partes
feita em pedaços disformes
Já que é você
o melhor de mim
sobrariam só
fantasmas
do que eu seria contigo
e não fui....

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Macaco hidráulico


Fiz um poeminha cruel
composto de mágoa e dor
pra encaixar sob teus pés
de modo que ao erguê-los
possa tirar meu orgulho
sobre o qual pisastes

Partir


Se eu pudesse
partiria
um lustre
sobre ti
pra que os mil cacos
te despedaçassem
como fizestes
a mim
usando apenas palavras

Se eu pudesse
me partiria
a mim
na metade
pra que vejas
o que fizestes
sem ver

Se eu pudesse
simplesmente
partiria...

E-motivo

Por te amar tanto
e tão sem limites
e tão sem barreiras
e tão sem máscaras
é que não posso
te odiar menos
do que faço agora

domingo, 14 de setembro de 2008

Dissílabo amor

- Te amo.

- Tanto.
- Tonto.
- Tento.
- Tinta.
- Tonta.
- Toda.
- Tudo.
- Tuo.
- Tua.
- T.a.
- Tb.a.
- Tanto!
- Tanto!
- ..........
- ..........

Schwab-Figueiredo
She loves him too
He's a label on her heart
She's a label on his heart
And as he made her his tag
They both became one
Under his name

sábado, 13 de setembro de 2008

Gente apaixonada é meio boba. Se pega de repente, olhando pro nada, como se o nada fosse a coisa mais perfeita do mundo. Como se o horizonte fosse feito, inteiro, única e exclusivamente pra ser contemplado ao lado do outro. E o outro, no caso, não fosse mais que uma extensão de você mesmo, mas mais bonito, mais sábio, mais doce, mais vívido, que são essas as cores que tingem o ser amado.
Paixão é presença. Vai tomar chá, lá está o outro. No aeroporto, no cinema, numa loja de brinquedos, numa boutique de lingerie. Lá está, invariavelmente, o ser amado, sendo consultado, dando opiniões, ou mesmo quedando mudo de espanto e de felicidade. Não existe saudade quando se está apaixonado. O que há é uma vontade de estar ainda mais perto do que a própria palavra distância, um incômodo em cada átomo e cada segundo que separam você daquela parte de você que te interessa tanto.
Paixão não tem música própria. É inútil dizer que ouviu uma música e lembrou do outro. Invariavelmente, em qualquer melodia, o outro ali está. Todo musicista do mundo é, por lei e por desígnio, um empregado seu, com a única e nobre tarefa de colocar em som aquilo que seu coração teima em dizer sem voz. Aliás, lembrar do outro é impossível, pois que não há esquecimento, não há hiato, não há nada mais, só vocês e esse amor que queima sem consumir.
Paixão não tem idade. É sempre adolescente, inconsequente, onipotente. Perde o limite, perde a vergonha, vence o medo, assusta a melancolia, manda a tristeza embora.
Se você é capaz de achar que não é dessa vez, isso não é paixão. Ela não admite dúvida. Sócrates, por exemplo, não diria que nada sabe se estivesse apaixonado. Ele teria certezas absolutas, concretas, indissolúveis. Todas, invariavelmente, acerca da hipérbole do seu próprio amor. A paixão é megalomaníaca, pois. É intensa. É verdadeira.
A paixão é terapêutica. Faz bem pra pele, pros cabelos, emagrece. Deixa brilho no olhar. Descansa o semblante. Faz a gente se sentir leve, leve, como era quando criança.
A paixão é cientista. Descobridora. Desperta interesses até então desconhecidos, impulsos nunca antes imaginados, vontades guardadas a sete chaves. Não há onde não penetre. Não há uma que nada produza. Paixão faz brotar flores nos dedos, só pelo prazer de colhê-las para quem tanto se quer. Deixa o coração e a mente abertos a cada mínimo detalhe, a cada pequena idéia que seja capaz de tornar a vida do seu amado milimetricamente mais bela.
Paixão é isso, que me tomou de assalto, e que me faz a mais ditosa das mullheres.

domingo, 24 de agosto de 2008

Até que enfim
a poesia que eu sempre vivi
começa a fazer sentido.

Porque era eu louca
e só
a buscar o amor
impossível.

Cansei de procurar
e ali mesmo,
distraída,
foi que ele me encontrou.

E corremos os dois
não de encontro um ao outro
como se esperava
mas, de medo,
partimos pro lado contrário
sem saber que a vida
dava voltas.

E de tanta dor
que já tivéramos
quedamos
a olhar um pro outro
sem acreditar
que realmente existisse,
que Deus
fosse capaz de tal desvêlo
ou que fôssemos merecedores dele.

E então o meu poema
que nunca teve nome
ganhou personalidade

E para sempre
começou a não parecer
tanto tempo assim.
Se você não vem
com quem dividirei
as nossas noites em claro?
E como serão nossas as noites
se você lá não está?
Pois que é menos noturna
menos verdadeira
menos escura
e tão pouco estrelada...
Como posso te esperar
desde as duas
se às quatro
você não chega?
Fiz um compromisso contigo
na minha mente
fértil mente
mas me descuidei
- você não estava lá....

domingo, 17 de agosto de 2008

Saudades do doce de minha mãe


E esse gosto de ambrosia que não me sai das lágrimas, que me perfura a alma! Este gosto inerte, que me olha como se eu toda coubesse dentro dele mesmo... O leite doce e talhado, em grumos capazes de fazer cócegas ao mais intangível pálato. Bem que eras o manjar dos deuses...

Jardinagem explícita


No caminho espiral que minhas digitais impõem é que percebo: o princípio e o fim são os mesmos. Hoje o desejo intenso da filha que eu não tive me tomou de uma maneira que só quem nunca foi mãe poderia entender. Se eu pudesse cuidar de alguém, ah!, não precisaria olhar pra mim. Poderia amar sem fim, sem explicação e sem temor. Então eu seria mais forte, eu não me venderia por tão pouco. Nasceu uma flor no meu dedo. A flor e seu espinho são meus, são tudo o que eu posso ser.

Música sem letra




De todas as palavras que recolhi, com cuidado, com desvêlo, com o carinho de quem crê em supernovas... nenhuma me fala mais que o silêncio de Chopin.

sábado, 16 de agosto de 2008


Porque é preciso dor para escrever. E se não arde, se não fere, se não pulsa, o mais que é possível é vestir os olhos de saudade, daquele imenso vazio que se chama imaginação; nada mais é ela que um espaço morto decorado de adesivos e paetês e lágrimas e sonhos.

Medo - um funcionário público

O medo tirou férias do meu coração e não avisou quando volta...

domingo, 27 de julho de 2008

Desculpa para dormir

Nos domingos o medo de ser eu mesma me assalta tão intesamente que não ouso abrir os olhos.

Métrica alexandrina


Quero escrever um fado

em métrica alexandrina

mas as sílabas me ficaram

presas na garganta

entrecortadas no soluço

entremeadas de lágrimas

da dúvida

que só a falta de métrica é

capaz

de entender

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Tág!


Quando ligar o computador
encontrará um beijo meu
indo de encontro a si
E meu beijo te verá
com cara de bobo
abasbacado
perguntando: Será?!
E daqui eu te respondo
que não sei,
mas ainda assim estou
feliz.
Era pra ser só um beijo
mas virou uma quadrinha
porque pra mim
tudo parece
poesia
agora.

domingo, 29 de junho de 2008

Para meu amigo Nemer e nossa amiga Clarice


Meu Deus
dá-me a coragem
de ter bons amigos
trezentos e sessenta e cinco dias por ano
um dia de cada vez
todos os dias até pra sempre
.
Meu Deus
dá-me a paciência
de que eles necessitam
pra me tolerarem
em medida redobrada
para que, abundando em mim
eu possa repartí-la
se lhes faltar
.
Dá-me também conselhos
os mais sábios
e os mais loucos
pra que juntos aprendamos
a discernir entre uns e outros
.
Dá-nos paixões suficientes
projetos em boa conta
tristezas que não nos afoguem
poetas que nos entendam
e amores que não nos afastem
.
Dá-nos sobretudo
a capacidade
de trabalhar na manhã seguinte
de cara lavada
e alma também
.

Nova embalagem


Não posso mais parar de pensar. Fazê-lo seria um crime que eu só ousaria cometer se me amasse muito. Os assuntos se repetem, nesse nosso tempo. Mudam os rótulos. Em nova embalagem, ainda o mesmo produto. E o conteúdo é o nada. É o não ser. Queria que fosse a ausência, porque esta é ao menos palpável. Mas o que me dói os ouvidos é a não presença. Brilha, lampeja, some. E é o não ser, o nunca de modo algum ter sido, que me assobra dos sentidos os mais loucos. Sei que não há só cinco deles. Do muito que a medicina me deu - pois que sempre gostei de ler os rodapés das páginas - o melhor foram os sentidos.

Lotação


Escrevo rápido porque o metrô já chega
E ele não espera
Não espera ele
.
Escrevo só pra contar
que os gênios e os loucos
são os únicos que me
interessam
.
E que os loucos são só
gênios virados pra dentro

Aparecida, essa Dona


Contemplo a morte pelos olhos de uma senhora idosa. Tomo de empréstimo o olhar alheio, que o meu próprio não teria coragem. Faço-no em prosa, que não sou capaz ainda de abarcar a poesia da morte. As pálpebras de D. Aparecida se entreabrem pra me permitir ver o que me naturalmente é vetado, pois que vivo ainda. Não que tenha medo. Muito antes o contrário. É como se toda a humanidade temesse a praia, porque nela a terra acaba. Pelos olhos emprestados de D. Aparecida, a praia é onde o mar começa.
A filha de Dona Aparecida pergunta se é mesmo necessário ir ao Hospital. Bem se vê quão mal amada é a minha defunta. Dói-me agora por nossa filha, Aparecida, que nem na morte conheceu misericórdia. Em Aparecida não dói, porque a dor já se aposentou dela, nem à dor um morto tem mais direito nesses dias.
Preciso escrever rápido, antes que a enfermeira me feche os olhos. Antes que esse instante, as quinze horas e quinze minutos esgotem-se em si mesmas. Todos os últimos sessenta segundos da sua cidadania. O tempo entre o morrer e o declarar a morte. Poderia eu como médica alongar esse interlúdio. Não constatar o que é óbvio e o monitor mostra. Mas agora sou aparecida, nem sou mais eu. Percebo as pausas que inponho ao texto. Como se o entrecorte da respiração que causa o ponto fizesse o tempo passar mais lento. Pra ti, leitor. Sim, sei que também queres espiar pelos olhos dessa senhora. Ou será que tomastes os meus olhos, que estão vazios pois que uso os dela?
Pra Dona Aparecida, o tempo será para sempre quinze e quinze. Não há depois; o depois simplesmente não é. Agora que estás aqui, leitor, tomo força pra alcançar o minuto seguinte. Segure a minha mão. Não me deixes de modo nenhum voltar a mim.
Preciso confessar, porque já temos intimidade. A sacrossanta intimidade de quem toma o corpo de outro pelo prazer. A morte me fascina. A entrega última dos mártires me enche de inveja. Um delírio quase sensual, a dor e o prazer em si mesmos. Dolore ipsum. Nosce te ipsum. Não há fascínio na morte de agora. Pois que se não tivestes graça em viver menos ainda em morrer, aparecida.
Perdoe-me o leitor a frieza das minhas colocações. Mas se algo me restou de Brás Cubas é que na morte não há segredos, não há dignidade, não há remorso. Não há nada, só mesmo a morte.
E é ela que agora eu olho. Desprovida da cor, do gosto, do som. O único sentido que lhe sobra é mesmo o cheiro. E como nada há que ver, fecho os olhos, enfim. Os meus e os vossos. Acabou-se o conto.

Brasília


Hoje me chegou uma brisa
nova
Uma lufada
de alegria
do Planalto Central

Hoje o vento trouxe algo
do cheiro de Deus
do gosto da Índia
da música que se esconde
dentro de cada palavra
gutural

MSN


O meu querer é tão tênue
e o gostar tão frágil
que se despedaça ao mero
fechar de uma janela
apagar de um frase

A palavra não mais dita
constrói mil cacos
dos mil beijos
que me mandavas

E ainda nem sei
se o fingir amar é que me faz bem
ou se fingir também
faço ao amar

AGSLA


São só letras, as suas
iniciais
Como se marcadas estivessem
numa toalha
numa valise
num coração
ou numa ovelha negra
Espreitam
demarcando
sem entretanto elucidarem
Acusatório é
o teu acrônimo
delimita o que te pertence
sem comprometer contudo
a tua identidade

Clarabóia


Lá vai a Princesa Clara
com seu sorriso de pra sempre
com seus olhos de maresia
andando por entre as gentes
.
O mundo lhe pertence
soberana do que é seu
a boneca, o batom, o filme da cinderela
um copo de amendoins
e o resto do universo
.
Tem certezas infinitas:
mamãe é a mais doce
papai o mais forte
vovó é a mais louca
vovô Chico tinha uma fazenda
Ia Ia Iou

Diálogo


- Doutora, a Senhora também escreve?
- Só nas horas ocupadas.
Nas horas vagas eu trabalho.

Cinema


Tem gente que tenta
acertar o final do filme
e sempre erra

Tem gente que
sem tentar
acerta

Há os que simplesmente
assistem
sem se importar com o fim

E há os roteiristas

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Entenda

Não quero namorar pra que tenhas o dever de pensar só em mim. Isso é o que menos me importa. Quero namorar pra ter o direito de pensar só em você.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Incompleto


Ainda não estou pronta
Pra escrever este poema
Tenho a vontade
Sobram-me as palavras
Mas o motivo saiu a passear
Em outras pradarias
E disse que não volta pro jantar

Mãos


Escrever me leva

o latejar de sobre os ombros

para a ponta dos dedos

que encrespados pelo frio

abraçam uns aos outros

Pra você que furtou minha carteira


Você não entende, meu querido. Levastes a parte errada. Um sorriso que ilumina o dia, este ficou. Não tomastes a minha fé, no Deus cujas misericórdias se renovam a cada manhã. Meus amigos permaneceram guardados na minha memória. A alegria ainda está impregnada na minha alma. E na fuga levando o que não é teu, deixastes cair a tua dignidade.

Clínica de Ritmologia


Meu chefe assoprou a tristeza pra dentro do meu coração. Se eu não pudesse escrevê-la até que saísse pra fora, teria morrido de infelicidade.
Há aqueles que têm na dor o seu modo de ser. Respiram para que, doendo, sintam que vivem.

Jardim perene


Meu coração não tem cercas. Quero os amigos chegando pro chá da tarde, mesmo na madrugada. Quero um jardim que se aviste ao longe. Pra cada amor que vier, plantarei uma árvore. Serei uma pessoa então de folhadura perene.

Quase me tivestes. Mas quase ter é não ter nada, do mesmo modo que quase ganhar é perder, que quase acertar é errar, que quase esquecer é lembrar. E quase amar, meu querido, quase amar é só um quase, nem merece ponto final

Ser


Então estou aqui, sozinha. Eu no espelho comigo mesma. Nem a dor me quer fazer companhia. Quando tudo desmorona, quando o sonho vai embora, é onde estou. É a realidade crua que me apara. As arestas da minha alma recusam-se a assumir a curvilínea forma. O cinzel e o buril se partiram. Bonito isso, dizer que se partiu – é um quebrar que leva embora, um estragar que não tem volta. Fujo do assunto porque me espanta. E na verdade o assunto é só esse: o nada. O que você é quando não faz, quando não trabalha, quando não pertence. Quem sou quando simplesmente existo? Diria que sou médica, morena, divertida, bem-educada. Mas ainda que me aposentasse, que tingisse o cabelo, estivesse de mal-humor, ainda seria eu. Alguém que ri como se o mundo fosse inteiro um lugar onde a alegria impera, e a saudade de ser criança ainda não é nostalgia. Assim sei que estou, na maioria das vezes. Mas isso ainda não me é. Meu nome me determina, mas não me contém. Conheço o que quero ser. Entendo o que não sou. Mas o resto – ah!, todo o resto – isso sim é que é a maravilha da vida.

segunda-feira, 9 de junho de 2008


Talvez por seres tão grande, meu amor
ou por talvez por ser meu sentimento
tão proporcional
não cabe mais ninguém
nem em minha boca
nem em minha alma.

Família Mafra


Nostalgia é a pressa de algo que não pode mais existir. Saudade é quando ainda existe, mas os dedos não alcançam.

domingo, 11 de maio de 2008

De Agostinho

Será, talvez, pelo fato de que nada do que existe sem Ti, que todas as coisas Te contêm? E assim, se existo, que motivo pode haver para Te pedir que venhas a mim, já que não existiria se em mim não habitásseis?

Como pois posso chamar-te se já estou em Ti, ou de onde hás de vir a mim, ou a que parte do céu ou da terra me hei de recolher, para que ali venha a mim o meu Deus, ele que disse: Eu encho o céu e a terra?

Porque não são os vasos cheios de Ti que Te tornam estável, já que, quando se quebrarem, Tu não Te derramarás; E QUANDO TE DERRAMAS SOBRE NÓS, ISSO NÃO O FAZES PORQUE CAIS, MAS PORQUE NOS LEVANTAS, NEM PORQUE TE DISPERSAS, MAS PORQUE NOS RECOLHES.

Santo Agostinho

Catarse

A culpa não é sua. Seu é o direito de ser fraca. Ninguém é super herói.
A culpa não é minha? Quer dizer então que eu posso chorar? Achei mesmo que essa dor que vive em mim era maior do que eu posso tolerar. Mascarar a dor é só um jeito bizarro de considerá-la grande. Escondo do mundo meu coração. Mesmo escrevendo, faço por partes. Frases pequenas, pra que a beleza se superponha à dor. Hoje quero escrever feio. Palavras repetidas. Sentimentos recalcitrantes. Choro e mágoa atrasados. Não quero ter culpa por sofrer. Sei que há muitos com maiores e mais justos motivos de se sentirem mal. Hoje no avião vi quão pequenas são as montanhas que contém as casas, quão diminutas as casas que contém as pessoas, quão mínimas as pessoas que contém os problemas. Mas mínimo não é insignificante. O dedinho cortado lateja, como que pra lembrar que é pequeno, mas dói. Às vezes tanto quanto a perna dilacerada. Então, eu posso sofrer. Mas não consigo. O choro me chega na garganta e vai embora. Sinto o aperto - e desvanece. Tenho vergonha de chorar. Estou só no quarto. A vergonha é de mim mesma. Não quero me admitir frágil. Sei bem que quanto menos me conheço e me aceito, mais ridiculamente fraca eu sou. Se eu agisse conforme cada coisa que sei!!!! Preciso chorar. Não porque vi um filme, não porque ouvi uma ópera, nem pela heroína de um livro. Preciso chorar de dentro pra fora de mim. Um choro meu, não fabricado. Minha dor tem que doer. Desamortecer. Gastei tantos anos escondendo ela lá no fundo que não consigo chegar perto. Nem consigo falar o que é.

domingo, 4 de maio de 2008

Sei onde, porque e como dói. Só não sei fazer parar. Queria te amar menos - nem faço questão de desamar logo de vez. Se fosse pouco, se fosse tolerável, se não esmagasse o coração...
Tuas migalhas de atenção me sustentam dia após dia, veneno homeopático. E tu nada sabes. E por desconheceres que és algoz, mais ainda me dilaceras a alma.
Queria poder incriminar-te de um erro que sei só meu. Pudera eu e serias meu cúmplice, pois ao menos nisso estaríamos juntos. Ouso pensar-te inclusive como meu álibi. Mas olho pro lado e vejo que nada somos. Eu sou e tu és. E só.

mágoa

Como é possível - me pergunto - só eu sentir o chão tremer? Não ouviste? Os sinos tocaram... Os fogos de artifício, essas estrelas emprestadas ao Criador, será que só pra mim brilharam?
Então porque não me amas? Porque te perdes em outro alguém? Cada segundo em que não somos, eu e tu, juntos, corrói todo o universo.

Às suas bodas

Se não o sabes, meu amor, meu coração está rasgado em dois. Desconheces o fio que me aprisiona a teu prazer. Ignora quão valiosa me é tua felicidade, mesmo que a aches em outro abraço que não o meu. Valiosa não, imperiosa, absurdamente necessária. Não existo sem que sejas feliz. E por isso choro, por isso clamo, por isso caio. Não há viver sem que estejas tu completo.

sábado, 8 de março de 2008

Museu das reduções


Cada vez escrevo menos. Aprendi a abreviar o sentimento. Logo será apenas uma letra. Um suspiro. Só.

Secura


Não choro. Nasci seca. Lágrima tem vocação pra ir embora, pra se fazer emoção. Borboletas do sofrer. As minhas se cansaram de esperar. Resolveram passear no mar.

Fim

Esse amor foi embora. Sobrou o gosto de pedra na minha língua. Um vulto cinzento na minha memória. Música dos Beatles ao fundo. E só.
Queria saber amar pra sempre...

Pontos


O que dói é que a verdade me escapa. Fugidia, ela não me sorri mais. E já nem sei porque confio.Deixei de crer no amor.


O que dói

É que a verdade

Me escapa

Fugidia ela

Não me sorri mais

E já nem sei

Porque confio

Deixei de crer

No amor


O que dói é que a verdade me escapa fugidia. Ela não me sorri mais. E já nem sei... Porque confio, deixei de crer no amor.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Métrica

Tenho quinhentos e oitenta e cinco kilômetros de saudade. Um a mais, meu coração beijaria o teu. Antes de te conhecer, te sentia a falta. Aprendi primeiro a te buscar, pra depois te ter. Tenho quinze anos de saudade. Deus me envelheceu em tonel de carvalho. Sou seu whisky green label. Fui feita pra te tirar do sério.
Tenho ainda cinco dias de saudade. Levo de presente um buquê de amor sem medida. Um dia a mais, meu coração beijará o teu.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Hoje a tarde choveu


Hoje a tarde
ressequida
de tanto esperar a noite
choveu a tarde inteira.
.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Assunto encerrado


Só não amo mais

porque não cabe

amor

incorrespondido

na mala

que me leva a São Paulo
.

Sexto sentido




Amei-te com todos os cinco sentidos. Usasse o sexto, teria fugido....

Mais uma de amor




Cerrei os olhos pra te não ver

Inútil

Estás impregnado
na retina

da minha mente
na curvatura

das minhas pestanas
na lágrima

copiosamente
retida
.
.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Parafuso


Amor é o parafuso
criado pro coração
Há que se prender
de mansinho e com cuidado
volta por volta
beijo por beijo
palavra por palavra
O amor bem implantado
cresce ferrugem no lugar
Pra sair
só arrancando
a parte
fora

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Fugaz

Te prendi dentro da minha mente pra que não voes. Não te afastes de mim, meu amor, pq sem a tua palavra, sem o teu boa noite, sem as nossas madrugadas minha insônia não tem gosto. Te amo por cada pensamento teu. Te amei aos poucos, pedaço por pedaço. Fomos Gregório de Matos, conhecendo antes a parte pra daí formar o todo... Não preciso fechar os olhos pra te ver. Sonho o tempo todo, te sinto perto. Te amar me faz melhor. Te amar me completa. Te amo por todas as qualidades fantásticas que você tem. Pelos defeitos que eu entendo. Pelo seu caráter, pelo seu empenho, conhecimento, por todo o carinho que me devotas, pela sabedoria, hombridade, sensatez, sarcasmo, honestidade, te amo muito pelo seu beijo. Mais além: te amo porque amo, e isso basta.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Hoje


Hoje eu te vi. Hoje, precisamente hoje, entendi que não posso viver sem que estejas ao meu lado. Hoje soube que não sou sem que sejamos. Hoje é o nosso dia, meu amado. Hoje é todo dia, amado meu.

Braile


Preciso aprender braile. A emoção que vive em mim já não cabe em palavras. Carestia do toque. Necessidade última e primeira. Imperativa. Devo aprender a ler tua face com as mãos. Mas - ó!, triste constatação - as frases mais belas ainda são as que não podem ser escritas.

Feliz para sempre



Porque a vida é assim mesmo. O resto é confabulação, intriga, paráfrase. Nasceste chorando? - eu não. Irrompi no mundo me gabando da alegria. Poderia ser o que quisesse, páginas em branco de um futuro incerto. Essa é minha escolha - viverei feliz para sempre. Essa é minha escola - viver feliz para sempre.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Pós plantão


Ontem acordei cantando. Hoje não. Hoje acordei dormindo.

Exausta

Tornei-me médica de suspiros. Instantes de descanso. Descaso com minha sombra, desleixo com minha dor. Desbotada está minh'alma. Ressequida, restrita, ressentida. Me divido em três - eu que trabalha, eu que sonha, eu que não dorme. Ainda bem que inventaram a base de efeito bronzant...

domingo, 13 de janeiro de 2008

Geralmente


Desparafusei os pés do chão e me deixei carregar pela brisa. O dia acordou sorrindo, um cafuné virtual resvalou meu sono. Só mais dez minutos - e em dez minutos coube uma vida inteira. Hoje a manhã já era à tarde. E nesse mundo inventado eu voltei a ser princesa da terra das orquídeas. Nesse preciso e fugaz instante, a saudade de quem eu fui se acercou da alegria de quem estou.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Te amo até a última gota
escorrer dos meus olhos
e molhar teus pés
Daí em diante
não te amo mais
porque me deixaste seca
de saudade e de ternura

Chocólatra

.

Chocolate é um abraço
Carregado de calorias...
.
.

Concerto




Ária é o som que um coração faz
quando desabrocha
Ópera é quando vários corações
resolvem florir juntos

Sobre a tristeza

Vivemos todos debaixo de máscaras
Maquiagem perene
Pena que a minha não é à prova d'água

Sobre escrever

Escrever é transformar delírios em decassílabos...
Tênue diferença entre o querer e o precisar. Subtil, sublime, subjetiva. O amargo do teu beijo ainda cheira a saudade. Mergulha teu punhal no mel, fere-me sem que o saibas. Como nem tomaste conhecimento da minha dor? Choro em silêncio pra que não despertes... Eu te amaria pra sempre se tu assim mo permitisses. Rodeiam-me gentes nas quais me escondo. Estou alhures, fugi de mim, ninguém nota. Gritei com toda a força dos meus pulmões e não me saiu som nenhum. Falta-me o verbo, sobram os adjetivos. Até o espelho se enganou, refletiu uma alma que não era a minha. Maquino vinganças que terminam em abraços. Nem tristeza, nem raiva. Angústia.