terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Anáguas


Pertenço a uma raça antiga, que cultiva borboletas nos cabelos. Minh'alma se alonga dentro da dimensão do tempo. Danço em bailes que não me conheceram. A saia farfalha, esvoaça, anáguas e mais anáguas de saudade. Dialeto em um francês que o mundo não compreende. Sou princesa das minhas idéias, rainha déspota dos sonhos absurdos. Quando penso me perco num passado que não foi meu. E se choro, recolho as lágrimas em cântaros de eternidade.

Conjugação

O amor não está distante. Vive dentro de mim, pulsa, chora, grita. Rasga as vestes. É intransitivo, dispensa complementos. Não amo a alguém, apenas amo. E isso é tudo, e basta.

Arritmologia


Meu peito bate descompassado. Um coração que se ri lá dentro. Impulsiona sonhos, transmutando em vida teses da hidráulica e da mecânica. Não dorme, não descansa, não se furta ao seu trabalho. Arritmia é o codinome da intensidade.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Distante por um dia

Meu peito respira a tua ausência. Não uma enxaqueca, sim uma dor crônica, discreta. Mas contínua, constante. Se suspiro, é apenas pra exalar o ar da saudade....

Reencanto

Me esqueci de mim. Saí pra passear lá fora da minha mente. Sinto muito, eu mesma, me desculpe. Deixei de ser eu. Volto. Retorno pro lugar de honra, pra casa que me pertence. Filha pródiga da minha vontade, abro os olhos pra contemplar o velho mundo. Os olhos é que mudaram...

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Tricotando

Qual a matéria de que é feita sua felicidade? A minha é tecida nas pequenas coisas. Acordar com um dia de sol. Correr na praia. Cheiro de pão no forno. E cerzida com as pessoas que eu amo. Porque essas sim, aquelas poucas pra quem você fala com a boca cheia, te amo muito, essas são as que fazem a diferença. Costura bem, com mão firme, com a mente resoluta, pra que não se rasgue. Tinge com risos e lágrimas, os mais possíveis, pra que não desbote. Minha felicidade é feita de sonhos.

Aldeia dos ventos

Recomeçar. É resgatar do passado os conselhos. Revestir com as experiências de vida. Acrescentar um perfume da saudade do que ainda não aconteceu. O espetáculo da existência é que as possibilidades se renovam a cada manhã. Tal qual a misericórdia de Deus. Recomeçar é arregalar os olhos pra deixar a claridade entrar. É permitir-se de novo ser feliz, feliz pra sempre até amanhã...

domingo, 16 de setembro de 2007

Sofá

A casa do meu pai tem meu sofá. Madeira nobre. Almofadas sonhadoras. Porque dentre tantos escolhi esse, desconheço. Mas naquele canto do mundo é sempre boa noite.

Photoptica


Sempre admirei os japoneses. A disciplina capaz de encaixotar as recordações numa máquina fotográfica. Não aborreço a objetiva. Pelo contrário. Mas me escapa o momento. Me perco em vivê-lo. Permaneço em olhar pelas lentes dos meus próprios olhos. Capturo o mundo, seu cheiro, seu gosto. Revelo intenções, nunca fotos.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Procura

Senti que faltava alguma coisa. No centro do turbilhão, procurei pedaços. De quê? meus mesmo, acho. Tenho o peito aberto e os olhos marejados de desejo. Não me reconheço - quem fui, serei, não sei. Embrulhei meus pensamentos numa caixa e entreguei como presente.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Terça feira de manhã


Hoje o sol trouxe o som pela janela. E, dentro de mim, acordei cantando. Desses dias que não precisa motivo pra estar feliz. Da minha mão brotaram flores, se espalharam pela casa. Sufocada por girassóis, demorei pra chegar na sala. Como quem veste um corpete, apertei bem a alegria lá no peito. O salto alto andou pelas nuvens sem fazer barulho. E o sorriso que estava no meu rosto destrancou a porta pra eu ir embora.....

Sobre viagens


"Hoje entendo bem meu pai. Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livro ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece, para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como imaginamos e não simplesmente como ele é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver". Amyr Klink

domingo, 2 de setembro de 2007

Domingo


Domingo é como se abrisse dentro de mim um homenzinho escritor. Um olho, logo outro, ele desperta. Vem com sede de arrumar a casa. É isso, tenho um diarista de idéias. Abre bem as janelas da minha mente, deixa entrar o cheiro do sol!

Em que pensas?

Em mim. Em você. Mais em mim do que em você. Que receio te gostar. Mas temo o não querer. E agora, imagina, que já cheguei até aonde cheguei, e agora? E depois que alcanço o arco-íris, tomo banho e vou embora... Vou embora? E já nem sei se quero estar ou permanecer!

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

São Paulo - cap I


Existe São Paulo e a São Paulo que eu sonho. Descobri que um Congresso é um jeito diferente de tirar férias. Bom, lá vou eu fazer as malas.

Pra que dormir tanto?

O que foi isso? Me perco no limite entre querer e querer bem. Quanto tempo existe entre a sua boca e o botão da minha calça? Ah!, seis anos. Inteiros. Mas minha vontade se desmancha quando você chega... E aí só sei que junto de você sonho gostoso. Quase como se sonhar não tivesse idade...

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Benji


Dorme enrolado no meu colo. Repousa, a dizer bem, que a cada turvar de brisa aguça o ouvir, como se antevisse o futuro. Cheira, absorve tudo, sniff sniff, faz meu cão. Que olhos espaçosos, abismados - guardas minhas emoções aí dentro?
Os modernistas inauguraram, e hoje se festeja, a arte de escrever sobre o nada. Porque, em resumo, a vida é a sucessão de pequenices.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Sobre o tópico anterior

É preciso esclarecer uma coisa. Não, alegria e felicidade não são o mesmo. Lembra do Sthendal? Aquele mesmo, Le rouge et le noir. "Estava muito menos alegre e muito mais feliz." Há quem possa interpelar que, pra tal sutileza na distinção, necessário é ter nacido em Grenoble. Pois sim, afirmo categoricamente (o que exatamente quer dizer isso?, mas soa bem), nem faculdade é preciso. Alegria tem semblante. Transborda, aparece, se faz notar. Felicidade é aconchego. É estar embalado nos braços do seu maior amor, que é você mesmo. Coexistência nem sempre é possível. Aliás, diria até que é exceção.

Sugestão aos lexólogos


O que é ser feliz? De verdade, por inteiro. Não aquela alegria escusa do tudo bem. Felicidade que até dói. Isso me cheira a arco-íris. Por vezes avisto no horizonte. Logo se vai, deselegante, sem aviso, sem porquê. Os quereres, os sonhares, o que são então? Planos... quem colocou tanta coisa dentro de mim? Parece - e digo isso sussurrando, como criança temerosa de errar a resposta à sabatina - que é interrogação. Troquem!, por favor troquem o nome felicidade. Usem ?, risco sinuoso, mas sem o ponto no final. Há poder nos símbolos. Quem sabe assim essa senhora não entra no meu dia?

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Como é morar junto - ou a ciência do despropósito do dois em um


Não é só pelo sexo. É a arte de trocar sonhos e inverter escovas de dentes. Acumular tristezas, escarafunchar alegrias. Certeza imensa de que quando a própria noite estiver dormindo, por mais ingrato que tenha sido o seu dia, aquele ombro te espera. Paciente. Com um caneca de amor fumegando nas mãos. É saborear o nome dos filhos que ainda vão nascer no céu da boca do outro. É perder sua intimidade enquanto encontra a alheia. Como cabe o mundo inteiro dentro de um alguém? Ah!, é tão ridículo e piegas quanto se esperaria de coisas espetaculares...

sábado, 18 de agosto de 2007

wwwpontoligapramimpontocompontobr. E ponto final.

Para Morfeu


O perfume do chá afaga minha nuca. Insônia é como chamam quando a gente esquece que dormir é obrigação. Pra mim não. Pra mim é descaso com o tempo. Invenção mais descabida, essa de passar um terço da vida virado pra dentro. Eu quero é o mundo lá fora! Quero tudo, e ao mesmo tempo. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no tempo e no espaço? Esses adultos têm cada idéia...

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Abre bem os olhos e vê: até onde a vista alcança é tudo ternura....

Dói trabalhar no feriado!!!!

Minha casa tem o cheiro
da alegria perene
como aquelas flores
que se plantam a si mesmas

A arte de assoprar o canudinho

Por que voava tão alto ninguém nunca perguntara. A brisa a enolvia inteira, tão suave e ainda assim capaz de sustentar toda a sua existência. Brilhava, sem dúvida - seria alegria? Banhava-se em todas as cores que o arco-íris era capaz de emprestar. Sorria, sim, posso dizer que sorria pela simples felicidade de existir. Não se preocupava quanto ao antes, ou o depois. Em agora se resumia tudo o que importava. Como na verdade sempre acontece, nós é que nos esquecemos de que futuro e passado não são tangíveis. Nunca poderia imaginar, quem fora só sabão misturado com água, a transformação que o soprar de um canudinho podia produzir. Ali estava pois, frágil mas segura. Com aquela certeza de que as melhores coisas são apenas os instantes de uma vida de bolha de sabão.
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Porque me amas


seeuencolhesseateficarminuscula,tãopequenaquenemaparecesse.... aindaassim VOCÊ estarialá..... pormaisqueuefujaoufecheosolhos,finjanãoteconhecer, TU meconhecesdesdeoventredaminhamãe.antesqueeufosse,jámechamavaspelonome.meescondodemimnofundodocopovazio,aindalámeencontrastes.comamor,comamormechamas, AMOR éo TEU nome.eporquemeamas,esóporisso,équenãoimportamosespaços,ospontoseasinterrogações.meencontrastes, SENHOR, perdidanocentrodemimmesma.rompeocercoquemeprendeaomeueu. Liber t a - m e d e m i m . . . .

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Delírios da febre

Não te parece suficientemente óbvio? A fuga é o amor transvestido de dignidade...

Conservei em álcool minhas sinapses.....


A cabeça pulsa.... Tudo pulsa.... O copo d´água se esvai lento ante meus olhos. Sopro uma mão, depois a outra: as borboletas insistem em voar entre meus dedos. Um choro agudo, claro -Clara? - e nada mais. Quantas conexões tem um neurônio? O trilho entre eles não parece muito conservado... Ainda assim embarco nesse trem, inicio a viagem. Essa é diferente. De que me serve viajar pra fora se tenho o mundo inteiro cravado na minha medula? E essa locomotiva que não pára de pulsar, pra onde vai?


terça-feira, 7 de agosto de 2007

Ensaio



Tinha sonhado com um amor desses de cinema. Daqueles que fazem cosquinhas na mente de quem imagina. Portava o coração vazio, desnudo de amor, como era preciso. E todos os diálogos já pré-ajustados, texto lido e revisado, obra maior da sabedoria popular. Já tinha encomendado os sonhos, os desejos, as brigas. Um filho aos 29, olhos do pai, uma menina aos 31, maçãs do rosto como as da mãe. Envelhecer velinhos, que lindo!, mãos dadas no banco da praça, cada um com sua bengalinha. Faltava o ator principal. Feita a lista, qualidades enumeradas, como sempre fizera. Tudo decidido de antemão. Assim, assim e assim, ele vai ser. A audição já tinha começado.

Foi como uma noite mal dormida, a bem verdade. Daquelas que você só percebe que já é manhã quando acorda dolorida. Meu torcicolo chegou num cavalo branco, trazendo as estrelas que encontrou pelo caminho. Não, ele não sabia que já estava tudo planejado. Nem perguntou sobre meu organograma. Chegou arrombando a porta. Melhor dizendo, entrando pela fresta que eu esquecera aberta, na ânsia de arrumar a casa.
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